17.9.05

dor

E eu recuso a dor.
Sob todas suas faces e formas.
Me nego a acreditar que a dor gera crescimento. A vontade faz crescer.
Recuso a aceitar a dor, me conformar. Não quero diminuir meu sentimento de impotência perante as dores que não consegui sanar. Prefiro transmutar o que me cerca.
A felicidade plena não seria tediosa. Esse é o discurso da derrota.
A única pessoa que não pode ficar contra mim sou eu mesmo. Se não, não há vida.

solidão

A solidao nos é dada por todos aqueles que estão ao nosso redor e por todas as multidões que já estiveram conosco.
Eu não acredito ser um ser solitário que no meio do caminho encontrou um monte de gente. Sou um alguém cujas partes são os outros que a mim se deram: na conversa, no olhar; na presença, na lição; na distância, no toque. E a unidade não se constitui em substância mas na disposição das partes que se organizam como se envolvessem um "eu", mas "eu" sou as partes dispostas ao redor de coisa alguma.
E não hei de me cegar na minha gênese em detrimento dos que me gerem, nao enxergarei uma concepção de um umbigo. A "centrípeta força do umbigo" mostra o centro mas oculta a sua significância: a ligação e a dependência ao outro (o único meio pelo qual tenho a vida).
Eu sou o que acontece, eu aconteço o que faço, eu faço o que posso, eu posso tudo aquilo que encontra espaço, o espaço me é concedido.
E então também a solidão é uma ilusão e todos estamos nos perseguindo a todos eles solitários que somos nós.